terça-feira, 15 de novembro de 2011

Advento do Senhor - Ano Litúrgico B

"Não deixa a lamparina apagar!”

Estamos iniciando um novo tempo litúrgico! No início de cada novo ano, muitos brasileiros já começam cheios de dívidas no mercado e com os cartões de créditos estourados. Neste contexto, o devedor não tem saída... Precisa cuidar para não aumentar a sua dívida! Com o Evangelista Marcos é quase do mesmo jeito: o ano litúrgico já começa com o sinal amarelo! Por que será?! Marcos é o primeiro texto Evangélico da bíblia e, como tal, não tem muitas papas na língua... Na vida muitas vezes precisamos estar na companhia de pessoas como Marcos, que nos dizem ás coisas que não queremos ouvir: “Cuidado, pois não sabeis nem o dia e nem a hora!” (Mc 13, 35).
O que o evangelista nos pede para cuidar neste tempo? - Com certeza as nossas comunidades sabem que a cor deste tempo é roxo, que há de preparar a coroa do advento e de guardar o hino do glória para o Santo Natal. Então, o que ainda nos falta? O profeta Isaías é quem nos diz: “Tu te irritaste, Senhor, porque nós pecamos; mas é nos caminhos de outrora que seremos salvos.” (Is 64,4b). Então, a proximidade da vinda do Senhor é tempo de alegre espera e um convite a rever a nossa conduta (Is 64,7). Mas, ânimo meu povo, “eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho” (Mc1, 2), para chamar o povo a conversão, para salvar o que se faz perdido. “Consolai o meu povo, consolai-o! Falai ao coração de Jerusalém...” (Is 40,1-2). Porque “como um pastor o Senhor apascenta o rebanho e o reúne, com a força do seu braço e carrega-o ao colo; ele mesmo tange as ovelhas-mães” (Is 40,11).
Mas o povo ainda não conseguia reconhecer os teus sinais... e, inquieto, se perguntava porque, então, João anda batizando se ele não é o messias? (Jo 1,25). A resposta de João dá o que falar: “No meio de vós está aquele que vós não conheceis!” (Jo 1,26). Então, “cuidai de tudo aquilo que sois – espírito, alma e corpo – pois Aquele que te chamou é fiel” (Ts 5,23-24a) e já está no meio de nós. Portanto, o tempo do advento é antes de tudo convite à conversão; pois, como Maria, a Igreja deve ouvir: “Não tenhas medo” (Lc 1,30), porque “o seu reino não terá mais fim!” (Lc 1,33). Como o Senhor se aproxima, vigiai! Como quem tem contas a pagar, cuidai para que não sejais pegos de surpresa.

Felipe Soriano, SJ

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Kamak Kawsay "Bem-viver é bem conviver"

Este pequeno texto deseja contribuir na construção de uma ponte entre o tema da Agenda Latino Americana 2012 e o convite da 35º CG sobre a comunidade Jesuítica enquanto missão. Porque nosso mundo padece daquela sabedoria do bem-viver que nos ensina o Bem-conviver e cuidar do desejo. (Felipe Soriano).  

Vamos ao texto:

Torna-se um grande desafio não deixar morrer as utopias que trazemos e, da mesma forma, recolocá-las na base de nossas buscas para iniciar um novo processo de reconhecimento de si e do mundo que se abre neste novo contexto mais injusto e global. Dizia o sábio: somos filhos de nossas experiências, algumas muito bonitas e outras sofridas e delicadas. Entretanto, nossos limites não nos afastam, mas, antes, aproxima-nos uns aos outros na busca do ser supremo que dá sentido às nossas vidas que chamamos Deus. Falar de vida, de desejo e de utopia é coisa de quem ainda sonha. É coisa de quem ainda não desistiu de ser feliz com os outros; e porque aprendeu a bem-viver, convida à saber-conviver.

Na vida vamos tomando consciência de que temos maturidade suficiente para muitas coisas e, muitas vezes, sentimos a necessidade de dizer, para quem quiser ouvir, que não somos mais crianças. Ser adultos o suficiente é fato que não se pode negar, mas, com frequência, falta-nos aquela liberdade para reconhecer que “somos o caminho que escolhemos para alcançar essa vida boa, esse bem-viver, esse conviver com os outros”. Custa-nos admitir que “cada um é caminho para o outro na busca da felicidade”, porque a felicidade não está ligada apenas à satisfação de preferências ou gostos individuais, mas, sobretudo, como oferta e garantia de que todos se realizem plenamente enquanto indivíduos humanos.

Vivemos tempos difíceis onde o consumo ganha contornos políticos, sociais, econômicos, espirituais e relacionais, fazendo da busca pela felicidade um dilema que até Deus tem dificuldade para resolver. Nosso Pai, Inácio, pedia-nos insistentemente que cuidássemos do desejo, que deseje desejar... Na modernidade, o desejo de consumo não é apenas individualista enquanto tal, mas também enquanto realização. Ridículas são as frases que condensam a felicidade numa garrafa de coca-cola, aparelho de celular, automóvel do ano, roupa de marca, jóia cara... sobre o slogan  de uma boa-vida mesmo solitária, na acumulação ou confiada num progresso insustentável e a qualquer custo.

Esquecemos os antigos que afirmavam que o lugar do homem é na pólis e aceitamos passivamente o imperativo do fim da história e das utopias. Nossos pais nunca nos contaram que não é possível continuar sem Sumak Kawsay? De fato, não é estranho constatarmos que não vivemos bem, porque não é possível bem-viver sem bem-conviver. Os povos andinos de ontem e de hoje nos convidam a dizer Sumak Kawsay, denunciando a necessidade de uma mudança de paradigma, ou melhor, de mentalidade para os nossos povos. A crise econômica mundial, além de esconder grandes urgências de ordem ética e moral, é quem coloca a pergunta sobre o estilo de vida que nós precisamos neste momento da história que nos obriga repensar o homem, a sociedade e a vida no planeta. “O nosso mundo padece de gente que nos ensine a bem-viver e a contar os nossos dias” (Sl 90,12). Como desejamos um dia... há de cuidar do desejo, sempre!