sábado, 24 de dezembro de 2011

Ecos de uma vigília: noite mil vezes feliz 



Eis o dia tão esperado, anunciado por gerações e cantado por todas as gentes.
Os profetas de antigamente bem quiseram ouvir tal notícia.
Os reis de antigamente bem quiseram tocar naquilo que apalpamos de tal notícia. Os trovadores de antigamente bem quiseram ver o que suas rimas sempre cantaram de tal notícia.

Noite mil vezes feliz,
Noite das noites a primeira,
Noite de mil e uma, a única sem acaso e sem começo.

Eis o dia tão aguardado, cuja moldura dá a criação novo formato.
A humanidade escuta hoje o seu relato, imagem opaca que os profetas fizeram anúncio. A humanidade toca hoje o seu soberano envolto em trapos, figura opaca que os reis nunca imaginaram. A humanidade vê hoje o seu verdadeiro retrato, foto opaca que os trovadores sempre ensaiaram, mas nunca balbuciaram.

Noite mil vezes feliz,
Noite das noites a primeira,
Noite de mil e uma, a única sem acaso e sem começo.

Das ironias da história és a única que merece ser celebrada, porque,
Aquele que era esperado por todos e por tempos sem fim, parece chegar num completo improviso. Foste visitada e sem soar nenhum sino a noite era dia... tudo era plena folia. A festa apenas crescia e de dois coros um madrigal surgia.

Noite mil vezes feliz,
Noite das noites a primeira,
Noite de mil e uma, a única verdadeira.

A partir de um “Sim” humano a liberdade divina se fez ousadia;
Justiça e Paz afinam e inicia um novo canto que a todos convida.
O incrível ainda não se viu, pois quem chega há de partir, quem vai há de voltar, mas este que chegou nunca mais quis nos deixar.

Noite mil vezes feliz,
Noite das noites a primeira,
Noite de mil e uma, a única verdadeira.

Felipe Soriano

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Enriqueceu-nos com sua pobreza" (Lc 2, 7)

Participando da novena de Natal aqui no nordeste, quero compartilhar um “Fato da vida” que compõe o material produzido para Novena de Natal - 2011 e que é oferecido pelo
Regional Nordeste 2 da CNBB - PE.

Enfrentar o dia-a-dia no semiárido nordestino não é fácil. É preciso descobrir um jeito que dê certo para vencer as dificuldades. O homem e a mulher do campo vivem com dignidade, até mesmo em situações mais extremas de miséria, mas dispostos a enfrentar são eles mesmos a ensinar no cotidiano, talvez sem se dar conta, o que significa amar com o coração: “Amai-vos como eu vos amei” (Jo 15,12).
Eis o que aconteceu com o agricultor Zé Pereira, Sitio Serra da Cruz, em Pesqueira, Pernambuco: no mês de marco deste ano, vieram as primeiras verdadeiras chuvas, depois de um ano de seca braba. Ele chegou na sede do Centro de Apoio ao Pequeno Produtor – CEDAPP – de manhã cedo. Tinha já caminhado três léguas. Rosto queimado pelo sol; nos pés, os mesmos chinelos de todo dia; nas costas, uma sacola pendurada no bastão... e com muita sede. Tomou água e um cafezinho com bolacha: coisas sagradas! Parecia estar com pressa e ansioso para falar. Da sacola puxou uma garrafa pet, cheia de milho até a metade, e falou: “Padre, São José mandou a chuva, graças a Deus. Aqui está a minha pequena ajuda para os que não têm sementes para plantar. No ano passado, consegui lucrar somente uma garrafa inteira de milho e guardei para plantar. Para mim, é suficiente meia garrafa. O resto está aqui para os mais pobres do que eu”. Sem mais nem menos, deixou a garrafa na mesa, carregou o bastão e a sacola vazia e foi embora satisfeito, apresado para plantar a outra parte da semente que certamente tornou-se alegria multiplicada e partilhada na festa de São João. Obrigado, mestre Zé Pereira, evangelho vivo.