quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Kamak Kawsay "Bem-viver é bem conviver"

Este pequeno texto deseja contribuir na construção de uma ponte entre o tema da Agenda Latino Americana 2012 e o convite da 35º CG sobre a comunidade Jesuítica enquanto missão. Porque nosso mundo padece daquela sabedoria do bem-viver que nos ensina o Bem-conviver e cuidar do desejo. (Felipe Soriano).  

Vamos ao texto:

Torna-se um grande desafio não deixar morrer as utopias que trazemos e, da mesma forma, recolocá-las na base de nossas buscas para iniciar um novo processo de reconhecimento de si e do mundo que se abre neste novo contexto mais injusto e global. Dizia o sábio: somos filhos de nossas experiências, algumas muito bonitas e outras sofridas e delicadas. Entretanto, nossos limites não nos afastam, mas, antes, aproxima-nos uns aos outros na busca do ser supremo que dá sentido às nossas vidas que chamamos Deus. Falar de vida, de desejo e de utopia é coisa de quem ainda sonha. É coisa de quem ainda não desistiu de ser feliz com os outros; e porque aprendeu a bem-viver, convida à saber-conviver.

Na vida vamos tomando consciência de que temos maturidade suficiente para muitas coisas e, muitas vezes, sentimos a necessidade de dizer, para quem quiser ouvir, que não somos mais crianças. Ser adultos o suficiente é fato que não se pode negar, mas, com frequência, falta-nos aquela liberdade para reconhecer que “somos o caminho que escolhemos para alcançar essa vida boa, esse bem-viver, esse conviver com os outros”. Custa-nos admitir que “cada um é caminho para o outro na busca da felicidade”, porque a felicidade não está ligada apenas à satisfação de preferências ou gostos individuais, mas, sobretudo, como oferta e garantia de que todos se realizem plenamente enquanto indivíduos humanos.

Vivemos tempos difíceis onde o consumo ganha contornos políticos, sociais, econômicos, espirituais e relacionais, fazendo da busca pela felicidade um dilema que até Deus tem dificuldade para resolver. Nosso Pai, Inácio, pedia-nos insistentemente que cuidássemos do desejo, que deseje desejar... Na modernidade, o desejo de consumo não é apenas individualista enquanto tal, mas também enquanto realização. Ridículas são as frases que condensam a felicidade numa garrafa de coca-cola, aparelho de celular, automóvel do ano, roupa de marca, jóia cara... sobre o slogan  de uma boa-vida mesmo solitária, na acumulação ou confiada num progresso insustentável e a qualquer custo.

Esquecemos os antigos que afirmavam que o lugar do homem é na pólis e aceitamos passivamente o imperativo do fim da história e das utopias. Nossos pais nunca nos contaram que não é possível continuar sem Sumak Kawsay? De fato, não é estranho constatarmos que não vivemos bem, porque não é possível bem-viver sem bem-conviver. Os povos andinos de ontem e de hoje nos convidam a dizer Sumak Kawsay, denunciando a necessidade de uma mudança de paradigma, ou melhor, de mentalidade para os nossos povos. A crise econômica mundial, além de esconder grandes urgências de ordem ética e moral, é quem coloca a pergunta sobre o estilo de vida que nós precisamos neste momento da história que nos obriga repensar o homem, a sociedade e a vida no planeta. “O nosso mundo padece de gente que nos ensine a bem-viver e a contar os nossos dias” (Sl 90,12). Como desejamos um dia... há de cuidar do desejo, sempre!

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