sexta-feira, 13 de setembro de 2013

CEB's no contexto urbano

Preparando o 19º Encontro Regional das Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s

(Texto adaptados por Pe. Felipe Soriano, SJ a partir do Texto-base
 do 13º intereclesial das CEB’s -2014, para fim pastorais)

              A cidade desafia o compromisso sociotransformador das CEB’s, primeiro, como lugar do encontro das pessoas em suas relações sociopolítica e socioeconômicos. No campo, os conflitos sociais aparecem de maneira mais escandalosa do que nas cidades, demandando uma postura mais combativa. Entretanto, só o fato de vir morar na cidade faz pensar que já se goze automaticamente dos seus benefícios. Tal cenário de acomodação e diminuição do fôlego transformador, mesmo com a inundação gigantesca da informação e dos bens culturais, apenas confirma a influência da cultura pós-moderna presentista e paralisadora. Mesmo ouvindo diariamente notícias vergonhosas de escândalos de corrupção na administração do bem público. Na verdade, a cidade cega e maquia muito bem suas próprias contradições fragmentando o sujeito urbano e o fechando no seu próprio individualismo.
                O segundo desafio ao compromisso sociotransformador das CEB’s se dá ante o esfriamento da prática religiosa nos centros urbanos, pois já não se veem com a mesma clareza da vida rural os antigos símbolos católicos. Como a vida urbana acelera o ritmo das pessoas, a queixa é geral: não temos tempo para nada. Nesta dinâmica, o padre bom é aquele que reza a sua missa ocupando o menor tempo possível dos fieis. Neste contexto, a fé e sua vivência passam a ser cada vez mais setorizada na vida do crente...  fazendo a religião minguar de dentro para fora. Todavia, paradoxalmente, a mesma cidade que impede a prática religiosa é a mesma que promove uma grande explosão de igrejas evangélicas, principalmente onde habitam os melhores candidatos (periferias urbanas).
                Os três pilares que dão sustentação a identidade das CEB’s são a dimensão comunitária, a preocupação social e a vivência religiosa. Sem esses três elementos em harmonia fica difícil celebrar a fé viva. A dinâmica urbana, em certo aspecto, inibi esses três elementos. Primeiro, dificulta a vida comunitário por causa da reduzido tempo para a convivência fraterna e a organização social. Sem muita motivação e empenho, dificilmente as pessoas se reúnem para o Círculo Bíblico (leitura orante da Bíblia), para as celebrações e atividades sociais. Na cidade a lógica é diferente do campo, pois se constata a passagem de uma ideia de espaço para a lógica do interesse. Por exemplo, no campo, as pessoas medem as atividades pela distância. Já na cidade não se valoriza o lugar como tal, pois um lugar só se torna importante se ele atrai e desperta interesse nas pessoas.
                Outra dificuldade que ameaça os três pilares das CEB’s é a formação de novas lideranças, pois na vida urbana a figura da liderança se faz urgente. Como a cidade fragmenta a vida social empurrando-nos ao individualismo, sem pessoas capazes de congregar o povo não fica fácil alimentar a vida de uma comunidade. Contudo, a urbanização não é o fim, pois, quando no campo a CEB era o centro, na cidade assuma-se uma dinâmica de parceria com outras organizações que lutam por um mundo novo. Contudo, tais parcerias exigem de nós agudo discernimento, pois, antes de tudo, cabe às CEB’s ser voz ética e profética em defesa dos pobres, marginalizados, injustiçados e excluídos. Nesta lógica, quanto mais numerosos forem os polos de interesse, mais ampla será a busca e a curiosidade.
                A Igreja primitiva nasceu urbana, consciente de sua vocação de ser presença do evangelho no coração da cidade, pois crescia nas pessoas um forte desejo por espiritualidade, mesmo marcadas pela violência e dureza da vida. A explosão religiosa hoje apenas confirma a carência de espiritual no mundo contemporâneo. Neste contexto, as CEB’s encontra um grande desafio: evangelizar a religiosidade do nosso povo. A religiosidade, na verdade, não pede conversão... As CEB’s têm um poderoso potencial para ajudar as pessoas envolvidas na onda espiritualista a descobrirem as exigências próprias do discipulado, isto é, a passagem da religiosidade para a fé. A Boa Nova a que conduz a conversão resume-se, em última análise, no serviço aos pobres, necessitados, marginalizados da sociedade.
                Como a cidade figura como o lugar do desejo e do prazer é necessário apresentar um novo lugar para experiências novas... A grande oferta de espaços de lazer e gozo urbano tem causado exaustão espiritual no homem moderno e, sobretudo, violência pela sedução das drogas e etc. Neste contexto, a evangelização deve ir na direção oposta: silêncio, tranquilização, paz interior e depuração do sentido do prazer. Tarefas que a vida urbana desconhece...  contudo, sente profunda falta. A igreja primitiva foi capaz, na diversidade de línguas e pessoas, construir identidade e respeito à diversidade. O desafio continua sendo o mesmo: ajudar as pessoas a passarem da obrigação para a realização humana e religiosa. E, neste contexto, a vida comunitária aparece não como problemas e sim como solução. De fato, as CEB’s precisam assumir o desafio de se tornar lugar para uma nova experiência de vida nas cidades.

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